Autor: Darci Garçon
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Uma história curta: um dia recebi a visita de um profissional que estava à procura de emprego. Após as formalidades iniciais, olhando para o seu curriculo, perguntei: – “sua área mais forte é Vendas ou Marketing?” Foi a gota d’água. Para responder, ele desatou a falar sobre sua infância, adolescência, formação acadêmica, experiência profissional e, teria ido adiante, se não o tivesse interrompido – após quarenta minutos -, com a intenção de ajudá-lo a chegar logo à resposta.
Este é o exemplo de um tipo de personalidade com que nos deparamos, com certa freqüência, tanto na vida pessoal, quanto no trabalho. Para indivíduos como esse, falar é mais do que prazer, é necessidade. Esse é o prolixo.
O prolixo é aquele que tem opinião formada sobre todas as coisas. Usa de abundância de informações, normalmente redundantes, que muitas vezes não têm muita conexão entre sí, portanto, não o leva, nem aos outros, a conclusão alguma. Se, além disto, for ousado e autoconfiante, tende a pensar que é mais inteligente do que os outros. Assume ares de arrogância e raramente aceita ser interrompido.
Ele é, antes de tudo, um chato. Quem gostaria de ter um chefe, amigo, parceira ou parceiro prolixo? Nem pensar! É vê-lo e procurar esquivar-se, pelos corredores. Essa criatura jamais é vista como um poço de simpatia, nem é reconhecida por sua agudeza intelectual. E como é tremendamente maçante, dificilmente, conseguirá manter um bom networking. E, em vez de estima, conseguirá rejeição.
Numa reunião, por exemplo, o prolixo naturalmente se sente na obrigação de falar e acaba monopolizando o assunto. Será que uma pessoa com esta postura consegue ser ou tornar-se um bom líder? Será ele capaz de motivar, inspirar e perceber quais as necessidades e aspirações de seus subordinados? Conseguirá ele manter a equipe coesa, integrada e cooperativa, em busca dos melhores resultados, se não é, sequer, capaz de esclarecer quais são? Será que não estressa seus liderados, pares e superiores, com seus argumentos exaustivos e reuniões infindáveis?
O prolixo, fala sem parar, argumentando inutilmente, sem nunca chegar à resposta esperada. Dá voltas e mais voltas, cansando a platéia e a si mesmo. Desperdiça seu tempo e acaba com a paciência de quem está ao lado.
O grande problema é que ele não percebe essa disfunção. Nem as pessoas incomodadas lhe dizem nada a respeito, pois esse é um feedback embaraçoso. Afora isso, ele parece ser incorrigivel ou teimoso, pois, mesmo diante da crítica, parece não acreditar no que está ouvindo e, portanto, não muda de atitude.
Humildade não faz mal a ninguém. Todos devíamos ter um amigo, alguém de confiança, para nos aconselhar ou chamar nossa atenção para pontos em que poderíamos melhorar. Além do mais, devíamos assumir o compromisso de mudar de atitude, sempre que uma recomendação dessa natureza nos fosse feita.
Prolixidade tem cura? É possível, apesar de não termos tido sucesso, nos casos em que interviemos. Depois desse malogro, achamos prudente supor que os prolixos são incapazes de fazer a transição sozinhos, portanto, um simples feedback, por si só, não resolve o problema. O feedback nos diz em que devemos mudar, mas não explica o como. E é preciso que se saiba como mudar, para se corrigir tal comportamento.
Não sou terapeuta. Sou especialista em ouvir e avaliar pessoas, o que me dá o embasamento para crer que os prolixos precisam passar por processo de coaching, que os ajudem a assumir novo comportamento. Trata-se, de fato, de um processo de reeducação. Os casos em que procurei ajudar, sem sucesso, me fazem acreditar que o coaching deverá ser conduzido por profissional sênior, com grande habilidade de comunicação e, mais do que isso, histórico de ter enfrentado valentões, pois não poderá “pegar leve”, nem ser “bonzinho”, com esse tipo de personalidade. Caso contrário, também correrá o risco do insucesso. Ou, pior ainda, poderá até tornar-se, igualmente prolixo, apesar de não acreditar que esse mal seja contagioso…
* Formado em Pedagogia pela USP, Darci Garçon é head hunter, sócio-diretor da TAG Consultores trabalha há 40 anos em Recursos Humanos.