No artigo anterior, falamos sobre a escolha que devemos fazer relativamente à carreira profissional, levando em conta três condicionantes, das mais importantes: carreira, dinheiro e qualidade de vida. Dissemos que cada uma delas será impulsionada pela situação vivida no momento, pelo nível de maturidade – ou, pela faixa etária – em que a pessoa se encontra e no que quer priorizar, pensando no presente e no futuro.
De certa forma, volto ao tema, desta vez inspirado na leitura do livro “O Valor do Amanhã”, de Eduardo Giannetti, que permitirá aprofundar-se numa questão muito importante, estreitamente ligada a esse assunto: a utilização do tempo.
É possível pressupor que muitas pessoas não administrem, adequadamente, a utilização do tempo nas diferentes fases da vida. Uma das razões para isso é que temos pouca consciência de que o tempo é um “ativo escasso”, em sua maior parte consumido para dormir e trabalhar. Se acrescentarmos outras atividades imperiosas para a sobrevivência, como almoço, jantar, convivência com a família, trânsito ruim, entre outros, pouco tempo sobrará para as demais ações, não menos importantes como estudo, aprendizagem e prática de um esporte que afaste o sedentarismo.
Afirmar que o tempo passa e não há como recuperá-lo é uma obviedade tão grande que nem precisaria ser mencionada. Mas quantos preferem viver o hoje e pouco se incomodam com o que virá? Pensar no amanhã deveria ser uma constante e o tempo disponível não deveria ser mal aproveitado com atividades que nada acrescentam à vida das pessoas. Mas, se pararmos para pensar, nos certificaremos de que, por mais óbvias que essas questões sejam, elas não fazem parte de nossas preocupações cotidianas.
No seu livro, Giannetti resume numa frase tudo o que queremos dizer: “Usufruir agora, pagar depois. Pagar agora, usufruir depois”. As coisas começam por aqui, já que uma dessas duas opções comandará as ações das pessoas no seu dia-a-dia, desde cedo, quando começam a definir os rumos de suas vidas.
Usufruir agora significa viver e tirar o melhor proveito do presente. Ou seja, curtir estes momentos, da melhor forma, preocupando-se menos com o que virá, logo mais. Tal escolha e postura poderão ter sido corretas, ou não, mas só o tempo dirá, quando a conta chegar. Vejamos os seus possíveis efeitos, na carreira profissional, que é o tema desta coluna.
Uma das possíveis consequências do usufruir agora, é que a pessoa poderá ser levada a parar no tempo, deixando de lado qualquer preocupação com estudos, leitura, aprendizado e o manter-se atualizado. Não sobra tempo. Se isto de fato acontecer, em algum momento, a pessoa será considerada um dinossauro. Por isso, a empresa onde trabalha passa a ter fortes razões para substitui-lo, por alguém mais jovem, mais bem preparado, com novas idéias, mais motivado, com mais iniciativa e contribuição para os resultados.
outro lado, quando estiver em transição de carreia e participando de processos seletivos, pelas idéias e argumentos que apresentar, logo deduzirão que a pessoa vive em outra época e parou no tempo e no espaço. O curriculo mostrará que o último curso ou treinamento de que participou, foi há muitos anos. Que se acomodou, permanecendo muito tempo na mesma empresa e cargo, sem promoções e aumentos salariais relevantes. Ou seja, não fez carreira ascendente, portanto, não teve o reconhecimento, em função da pouca ou nenhum contribuição que tenha agregado. Aí é que se perceberá que a conta não sairá barata.
Vejamos a situação inversa. Pagar agora, significa curtir menos a vida quando se busca construir ou consolidar uma situação pessoal ou profissional. Implica em que todo o tempo disponível será direcionado a alguma atividade útil, como estudar, aprender, buscar recursos que ajudem no desenvolvimento de uma carreira de sucesso, que motive a empresa a promovê-lo, ainda que lateralmente.
Este é o perfil típico da pessoa ambiciosa, inconformada, quase nunca satisfeita com a forma e com o timing em que as coisas estão acontecendo em sua vida. São os profissionais que gostam de desafios, não curtem zona de conforto, nem tarefas repetitivas por muito tempo, estando sempre batalhando para galgar mais um degrau. Por isso, se sentirão compelidos a buscar oportunidades em outras empresas, quando percebem que a rotina não muda e não estão sendo reconhecidos por meio de promoções ou aumentos saláriais que compensem o esforço e dedicação ao seu desenvolvimento e aos resultados da empresa.
Optar por viver melhor agora ou no futuro é produto de decisão pessoal e depende de muitos fatores. O tempo e as experiências me fazem acreditar que a segunda opção seja a mais prudente, pois, poderá criar melhores condições para que as dificuldades sejam suportadas, quando a idade avançar e o ânimo e as oportunidades começarem a diminuir.
Assim, há dois caminhos: curtir agora e pagar no futuro ou pagar agora e curtir no futuro. Não é um decisão fácil…