Autor: Darci Garçon
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Há certos autores que aparecem em nossas vidas em boa hora e nos ajudam a administrá-la de maneira mais produtiva. É o caso de Viktor E. Frankl*.
Frankl era um psicólogo austríaco, judeu, que esteve recolhido durante dois anos e meio, num campo de concentração, no decorrer da Segunda Grande Guerra. A amarga experiência que aí viveu e a observação do comportamento de seus companheiros, lá também internados, levou-o a desenvolver uma outra terapia, que chamou de Logoterapia (logos = significado).
A questão central da Logoterapia é o sentido. Todo ser humano deve dar sentido à sua vida. A pessoa vive por alguma razão, escolhendo tarefas vitais, que transcendem a simples procura de prazer. Se não for assim, cairá no vazio existencial, que significa falta de objetivos para a vida. O vazio existencial é um tipo de neurose que se manifesta sobretudo pelo tédio e que dá origem a inúmeros problemas, dentre eles, depressão, alcoolismo, uso drogas, violência, agressividade e até suicídio. Nos seus estudos, Frankl concluiu que a busca de sentido para a vida, se constitui na principal força motivadora que aciona e dá razão de ser às pessoas.
Nos campos nazistas de extermínio, a taxa de suicídio era baixíssima, apesar das condições severamente adversas. Sabe por que ? Porque o que dava sentido às pessoas lá internadas e condenadas à morte, era a luta pela sobrevivência e isto as motivava a suportar todo sofrimento, como o frio intenso, alimentação restrita, trabalho pesado, maus tratos, entre outras dificuldades.
Diferente da Psicanálise, a Logoterapia, é menos introspectiva e menos retrospectiva. Não tem nada a ver com impulsos, transferência, ego, super ego, id. A frustração existencial que a Logoterapia leva em conta, não é patológica, nem patogênica. Não se trata de uma doença mental. Ela se concentra mais na visão de futuro, ou seja, nos sentidos a serem realizados, de forma concreta. Cada indivíduo tem a sua própria vocação ou missão específica na vida e precisa executar tarefas concretas, que importem na realização de alguma atividade útil para si, para outro ou para a comunidade e na vizualização de algum tipo de resultado.
Acredito que, nos tempos atuais, a expressão em evidência que retrata toda essa situação é propósito.
Como dissemos, a Logoterapia serve para ajudar as pessoas a encontrarem sentido, preocupando-se menos com o inconsciente e mais com a realidade existencial. Veja o caso dos idosos, dos aposentados ou dos profissionais que estão em transição de carreira. Sem terem com o que se ocupar ou sem disporem de alguma atividade produtiva que tome o seu tempo e lhes dê alguma satisfação, certamente, não viverão felizes e estarão sujeitas aos problemas mencionados anteriormente e, o mais comum deles, é a depressão. Importante frisar que riqueza, poder, status e satisfação momentânea, por si só, não trazem sentido à vida das pessoas.
Frankl considera que a busca de sentido pode se dar de três formas diferentes:
- criando um trabalho ou praticando um ato
- experimentando algo ou encontrando alguém
- assumindo determinada atitude diante do sofrimento inevitável
O dia-a dia nos mostra que poucos serão fortes o suficiente para suportar, incólumes, a vida, cochilando dia e noite, vendo TV o dia todo, indo passar o tempo no shopping, lavando carro, cuidando do jardim, jogando dominó, rotineiramente, para preeencher o tempo. Outros, para dar sentido às suas vidas, preferirão trabalhar 12 horas por dia e levar trabalho para distrair-se em casa, durante o fim de semana.
Para piorar, há dois temas em evidência e o cenário é bastante preocupante. Um deles é a diminuição dos empregos pela invasão tecnológica e outro, a longevidade. Diante desse quadro sombrio, pergunta-se: de que as pessoas vão se ocupar para dar sentido ou ter um propósito em suas vidas ?
Sabe Deus ! Certamente, para viver de maneira satisfatória quando há tempo sobrando, devemos usar nossa criatividade para preenchê-lo da maneira mais útil e saudável possível. Quais são os meus objetivos? Para onde estou indo? O que devo fazer para preencher o tempo de maneira produtiva e sendo útil de alguma forma? É provável que uma reflexão sobre essas questões, por um lado e, iniciativa e ação, por outro, ajude a evitar os aborrecimentos próprios da desocupação como o desemprego ou da aposentadoria indesejada.
*Em Busca de Sentido, Viktor E. Frankl, Editora Sinodal.