Autor: Darci Garçon
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O tempo passa rapidamente. As palavras de Dee Hock*, à sua maneira, expressam bem o que vemos acontecer: “Hoje, o passado está cada vez menos profético, o futuro cada vez menos previsível e o presente quase não existe”. Trata-se de um resumo fantástico do que ocorre nos tempos da globalização.
Chegamos ao final de 2008. E, no vaivém da Economia, só Deus sabe o que testemunharemos nos próximos meses. Como sempre, deveremos “dançar conforme a música”. Situações imprevistas vivenciadas, já nos obrigaram a afinar a percepção, a enxergar o abstrato e a acelerar o processo de adaptação para não perdermos o bonde da história. Esses atributos são importantes e devem ser postos em ação desde já, nas preocupações pessoais e também nas profissionais.
Quanto ao trabalho, no contexto desse cenário incerto, tudo indica que será prudente manter-se plenamente ocupado e esforçar-se em apresentar alto desempenho com a intenção de assegurar o emprego. Esse comportamento será mais prudente do que querer sossego e pouco estresse. Temporariamente, devemos deixar qualidade de vida em segundo plano.
No passado recente, digamos, até os anos 80, a situação não era nada parecida com a que vivemos hoje. De lá para cá, as exigências do mundo corporativo mudaram, mandando para o espaço o conforto e a segurança que tínhamos. As empresas introduziram pré-requisitos mais rígidos para admitir e manter os seus colaboradores. A cobrança por resultados intensificou-se de forma exagerada. Por outro lado, as equipes de trabalho foram reduzidas em função de custos elevados.
As empresas eram mais tolerantes no que diz respeito ao desempenho. Era mais difícil ser mandado embora, daí se passar muitos anos no mesmo emprego. Já não é mais assim há algum tempo e, apesar disso, cuidar da gestão de pessoas passou a ser uma atividade mais complexa, requerendo aprendizagem, experiência e maturidade. Nos dias de hoje, os gestores – os antigos chefes – precisam conhecer, nos mínimos detalhes, os seus colaboradores – os antigos empregados. É impossível comandar uma equipe e mantê-la produtiva, motivada e cooperativa, sem saber quais as necessidades pessoais, interesses, ambições e planos de cada um. E, a partir desse conhecimento, estabelecer uma forma de gerenciamento sabendo que não existem duas personalidades iguais.
O aparecimento do computador parece que foi a fronteira histórica. Ele proporcionou a racionalização dos processos, reduziu tempos de produção, ajudou a melhorar a qualidade e os controles, tornando as empresas mais competitivas. Em contrapartida, reduziu a quantidade de empregos. Além disso, passamos pelas fases de reengenharia, downsizing, terceirização e aquisições, mesmo quando a economia do país estava em crescimento. Hoje, o aumento das oportunidades de emprego não acompanha o crescimento da oferta de mão-de-obra. Este é um problema mundial que deverá intensificar-se com o passar dos anos.
As relações empresa/colaborador mudaram muito. Não existe mais o senso de comunidade. Saiu de campo o “familiar” e entrou o “profissional”. Em compensação, melhoraram as condições físicas e materiais. Surgiu a remuneração variável para premiar desempenhos diferenciados, os programas de benefícios foram aperfeiçoados, principalmente os voltados para a preservação da saúde.
Surgiu uma nova situação: o medo de perder o emprego. A intranquilidade, o desconforto, a insegurança e a incerteza se acentuaram depois dessas mudanças. Manter o emprego tornou-se a grande preocupação e evitar a “transição de carreira” passou a ser objetivo mais importante das pessoas que estão empregadas e necessitam do emprego.
Virou modismo a preferência das empresas pela geração “talentos”, por jovens profissionais na faixa de 23 a 30 anos de idade. Fortaleceu-se o preconceito contra os que têm mais de 40 anos, apesar de apresentarem melhor preparo, mais tempo de experiência e as mesmas condições físicas. Os “coroas” ficaram relegados a um segundo plano na preferência das empresas. Foram valorizados os MBAs, a fluência em idiomas mesmo quando desnecessária. Apareceram os programas de trainees com desgastantes processos de seleção, aplicação de complexas baterias de testes psicológicos e intermináveis dinâmicas de grupo.
Do lado da gestão, a palavra estratégia tornou-se um jargão modernista e passou a ser utilizada em qualquer situação, sempre com a intenção de disfarçar, realçar ou tornar menos vulgar a função ou as situações de trabalho. O uso dessa expressão passou a dar caráter de intelectualidade, inteligência e superioridade a quem dela se serve.
Do lado dos profissionais, impossível esquecer os efeitos da dramaturgia. A cobrança impiedosa de resultados fez com que o talento dramático se tornasse cada vez mais importante em detrimento da competência técnica. Nos tempos atuais é preciso saber encenar não só para segurar o emprego, mas também para exibir status, poder e autoridada. Ser convincente e saber explicar as razões do fracasso pode ser mais importante do que conseguir resultados…
Quem procura emprego, no dias de hoje, se defrontará com obstáculos inimagináveis há 30 anos. Hoje, os profissionais valorizam os seus sonhos, reconhecimento, qualidade de vida e remuneração diferenciada e as empresas valorizam alto desempenho e resultados. Deixou de existir um propósito comum entre as partes. A cena equivale a uma batalha entre mercenários de um lado e tiranos de outro.
Em matéria de gestão de pessoas, nestes anos, apareceram muitos modismos, quase todos transitórios. Mas há algo que não mudou: a demissão. Este é um procedimento comum nas organizações e deveria ser prognosticável pelos empregados. Poderia relatar inúmeros casos de desligamentos feitos de forma escabrosa. Ser demitido inesperadamente é tão impactante quanto perder um ente querido. Demitir é um procedimento comum e deveríamos estar preparados para conduzi-lo. Mas não é assim. As empresas não estão preparadas para realizar demissões de forma adequada e a não arrasar o ser humano que há por trás de cada colaborador.
Assim, nesse cenário de incertezas em que vivemos, é preciso refletir. É oportuno fazer um retrospecto, analisar possibilidades, pensar em alternativas e estar preparado para o que poderá vir, eventualmente, o pior. E torcer para o que foi apreendido e realizado ao longo da carreira seja útil para abertura de outras oportunidades.
* Nascimento da Era Caórdica, Dee Hock, Editora Cultrix