Autor: Darci Garçon
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Tanto na vida pessoal quanto na profissional, é prudente saber como você se relaciona com as outras pessoas, principalmente, quando tem algum grau de ascendência, formal ou informal, sobre elas. É por meio desse relacionamento que você forma e passa a sua imagem, a que é vista pelos que o cercam. E essa imagem pode ter distintas conotações:  você pode tornar-se simpático ou antipático,  humilde ou arrogante, tratável  ou intratável.

Vejamos um exemplo de uma forma comum de relacionamento.  Recentemente, terminada uma prova de 25 quilômetros na USP, passando diante de uma tenda, ouvi um conhecido treinador fazendo um comentário horripilante ao seu treinando sessentão que, com certeza, não se deu bem na prova. Resumindo, concluiu da seguinte forma: “… quanto mais velho, mais burro…”

Pessoas de bom senso concordarão que é uma forma deselegante de dirigir-se a alguém. De minha parte, acho “grossura”, mesmo sabendo que a intenção desse treinador era a de ser educativo. É a forma que sabe usar para corrigir o comportamento deficiente de um de seus treinandos. É uma forma  inadequada, desrespeitosa, imprópria para se dirigir a alguém. E, se procedeu assim com esse seu treinando, é possivel que se dirija da mesma forma à sua esposa, seus filhos, amigos e vizinhos…

Este tipo de hostilidade verbal  talvez seja mais comum em situações de trabalho, principalmente quando o chefe autoritário não é dotado de auto-crítica  julgando-se mais competente do que os demais. Ou, então, pode ser um incopetente consciente disso, que usa essa forma de agressividade para amedrontar e conseguir submissão.   Robert Sutton* chamou a estas  pessoas de “líderes babacas”.

Os líderes babacas, na expressão de Sutton, são aqueles que usam de comportamento verbal hostil, insultos pessoais, piadas e outras formas de humilhar ou rebaixar os outros para fazer valer a sua falsa superioridade. É muito comum ver este tipo de personalidade em qualquer lugar, seja na vida pessoal, seja no trabalho.

Sem querer influir no seu direito de escolha, essa é uma alternativa de postura no relacionamento. Você pode preferir tornar-se ou manter-se um líder babaca, porque é mais compatível com sua maneira de ser.  Sendo assim, tudo bem. Mas, tenha certeza,  você será mais odiado do que amado. Você pode, também, escolher uma outra modalidade de liderança, a que  foi demonstrada por Jim Collins**: o lider nível 5. Estes líderes eram gerentes gerais  de empresas de sucesso e muito rentáveis durante vários anos seguidos. Sua ambição era voltada para o sucesso da empresa e não para a própria riqueza ou renome pessoal.

Este líder nível 5 tem como principal caracteristica a modéstia e a humildade. É arredio a bajulação e jamais fica se vangloriando de suas vitórias. É determinado, destemido e obcecado na busca de resultados. Por ser modesto e humilde, passa longe da mídia e da exposição: são arredios à publicidade.  Veja um exemplo simbólico apresentado por Collins: quando a  empresa do líder 5 atinge uma meta importante, ele olha pela janela e não para o espelho.   Significa que ele não olha para si próprio. Ele olha para os seus colaboradores  reconhecendo o esforço e dedicação das pessoas que estão em sua volta, a quem cabe, de verdade, os méritos pelo sucesso.  Este tipo de líder não usa de subterfúgios para firmar-se como tal. Simplesmente, são reconhecidos pelos que convivem com ele.

Para tornar-se um líder similar ao  líder nível 5, é preciso ter, também, competência. Não basta ser humilde.  Ser modesto, discreto,  tranquilo, gentil, bem educado ajuda. Mas essas qualidades precisam ser complementadas pela competência e pela vontade férrea de conseguir resultados.

Temos mais uma opção de modelo de liderança: é a do líder que encarna o comportamento induzido, apresentado por Dee Hock ***. Este tipo de lider não precisa usar a força ou a agressividade  para fazer valer a sua autoridade ou a sua superioridade hierárquica. Ela é reconhecida naturalmente.  Comportamento induzido é o oposto do comportamento  forçado. Neste caso, as pessoas recebem  ordens, são mandadas. No outro caso, as pessoas sabem o que deve ser feito e o fazem espontaneamente porque sabem o que é esperado delas. E o fazem com boa vontade e motivação pois têm certeza que o seu esforço e bom desempenho serão reconhecidos.

De acordo com Dee Hock, o comportamento induzido pressupõe uma relação do tipo lider-seguidor, que é muito diferente de uma relação superior/subordinado, administrador/empregado, patrão/criado, dono/escravo, onde a tirania está presente, naquele padrão que todos conhecemos: “sabe com quem está falando?” Na relação lider/seguidor, de um lado, há o reconhecimento de competência, conduta ética, inteligência, esforço e habilidade no trato, e de outro, a compreensão, reconhecimento e respeito. Nada mais desanimador do que estar subordinado ou conviver com chefe ou com  pessoas incompetentes, anti-éticas, autoritárias, manipuladoras e donas da verdade.

Se se fizer um retrospecto de toda literatura voltada à gestão e à administração, certamente, muitas outras modalidades de liderança poderão ser encontradas. Uma para cada gosto. Os exemplos citados aqui foram vistos em livros editados mais recentemente e servem, apenas, como parâmetros e exemplos para  reforçar a idéia de que  podemos conseguir o que queremos das outras pessoas, não somente na condição de chefe mas também como treinador, amigo,  pai, de uma forma cortês e gentil, sem precisar “pegar pesado” ou humilhar,  como no caso do personal trainer mencionado.

*Por que as pessoas de negócios falam como idiotas – B. Fugere, C Hardaway, J. Warshawsky
** Empresas feitas para vencer  –  Phil Collins
*** Nascimento da era caórdica – Dee Hock
****Formado em Pedagogia pela USP, Darci Garçon é head hunter, sócio-diretor da TAG Consultores trabalha há 40 anos em Recursos Humanos.

Categorias: Artigos

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