Autor: Darci Garçon
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(Antecipo que este artigo foi redigido por um headhunter que não tem formação em Psicologia. Correções ou comentários são bem vindos.)
Ao receber o candidato e dizer bom dia ou boa tarde, muitas vezes é possível imaginar se ele é adequado ou não ao cargo ao qual se candidata. E, no decorrer da entrevista, pode ser que a percepção inicial venha a se confirmar, porém, é prudente não considerá-lo aprovado ou reprovado de imediato, apoiando-se apenas na primeira impressão.
Esse pressentimento é provocado pela intuição, uma habilidade que carregamos desde sempre e que se refina com o passar do tempo e em conformidade com o ambiente em que vivemos. Mas o que é intuição, esse fenômeno importante que nos acompanha tão de perto e nos ajuda em muitas situações, na vida pessoal e no trabalho ?
Intuição tem sido objeto de estudos há muitos anos e, segundo inúmeros pesquisadores, funciona assim: o subconsciente capta informações no ambiente, deduz e nos leva a tomar uma decisão. Herbert Simon* descreveu-a da seguinte forma: “a situação forneceu um indício; esse indício deu ao especialista acesso à informação armazenada na memória, e a informação fornece a resposta”. Para efeitos deste artigo prefiro achar que intuição é o pressentimento que temos, diante de uma situação, que nos leva a tomar uma decisão..
Há algumas expressões que se aproximam de intuição, dentre elas percepção, insight, suspeita, feeling, visão, palpite. Aparecendo de uma forma ou de outra essas expressões também estão ligadas à forma como percebemos determinados acontecimentos e como reagimos a eles.
Como já disse, a intuição é útil principalmente nos momentos difíceis e é por meio dela que tomamos decisões e definimos os nossos rumos. Neste artigo pretendo mostrar a influência dela em entrevistas nos processos de Seleção. Retornemos, portanto, à pergunta: por que já no primeiro instante a intuição nos sugere se o candidato que estamos entrevistando é adequado ou não ao cargo ?
Esse pressentimento tem tudo a ver com o que Daniel Goleman** chama de Inteligência Emocional (I.E.) apresentada pelo candidato. Ou seja, depende da “maneira como lidamos com nós mesmos e com os outros”, cujos componentes são “comunicação, empatia, liderança, influência, adaptabilidade, persuasão”, atributos que vão transparecer na comunicação não verbal e que serão perceptíveis pela postura, tom de voz e comportamento do entrevistado que impactarão o entrevistador.
Mais um detalhe que tem impacto no pressentimento: segundo Leonard Mlodinow***, “A comunicação não verbal tem papel importante na percepção de afeto, credibilidade e poder de persuasão. O rosto e os movimentos têm um papel especial no comportamento humano. Quando observarmos os rostos, podemos logo julgar se alguém está feliz ou triste, contente ou insatisfeito, se é amigável ou perigoso”.
Lembro que conhecimento técnico, cargos ocupados, estabilidade e outras competências não emocionais estão descritas no currículo e já credenciaram o candidato numa primeira etapa. Daí para frente os componentes da I.E. e a postura não verbal é que permitirão ao entrevistador – no uso de sua capacidade intuitiva – prever se o candidato é a pessoa certa em acordo com os requisitos expostos no perfil do cargo, com a cultura da empresa e com o estilo gerencial do futuro chefe. Resumindo, não se trata de um julgamento pela aparência, mas pela postura, argumentação, forma de se relacionar. Ler sentimentos e emoções não verbalizadas; compreender as preocupações que ficam atrás dos sentimentos não é nada fácil…
Importante lembrar que prestadores de serviços – como é o meu caso – ao “pegar uma vaga” não deve se limitar em obter os detalhes do perfil desejado junto ao RH da empresa cliente. Necessariamente, deve investir alguns minutos numa reunião presencial ou virtual junto ao “dono da vaga”, o futuro chefe, para que a sua intuição lhe dê alguns detalhes sobre o temperamento desta pessoa e o ajude a buscar as opções que poderão ter maior afinidade com ele.
É possível desenvolver ou aperfeiçoar a intuição? Não encontrei uma resposta a essa pergunta mas imagino que ela se aperfeiçoa automaticamente ao longo dos anos e torna-se mais acurada à medida que amadurecemos e nos servimos dela para tomadas de decisão tanto na vida pessoal, quanto na profissional.
Finalmente, é bom registrar que, de acordo com os psicólogos especialistas no assunto, nem sempre tomamos a decisão certa em função do efeito intuitivo. Ainda que sejamos capazes de perceber sutilezas na postura e no comportamento das pessoas, sempre é bom ficar com um pé atrás e assegurar-se de que um eventual erro possa ser evitado.
- Herbert Simon – Rápido e Devagar – Daniel Kahneman
** Daniel Goleman – Inteligência Emocional
*** Leonard Mlodinow – Subliminar